quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fase sólida: quantidade por qualidade


Dando continuidade à evolução de sua dieta, chegou a hora dos alimentos de consistência sólida.

A normalidade tão esperada se aproxima, mas não deve ser confundida com a possibilidade física de voltar a comer as quantidades do velho padrão. Isto não é mais possível e, se você tentar, entenderá o que estou falando. Os desconfortos descritos revelam um grande mal estar. Mesmo já cicatrizado, o estomaguinho parece que vai explodir, você exagerou.

Se isto já te aconteceu e você sobreviveu, ou se ainda te acontecer, lembre-se: o melhor a fazer é se desvencilhar das culpas e se perdoar. Não perca muito tempo se criticando, não será útil para o seu projeto. Sinta a tristeza que acompanha o velho padrão e siga em frente, sem ela. Refaça o bom pacto contigo mesmo, mantendo-se aberto ao novo, usufruindo dos seus resultados.

A cirurgia é uma oportunidade ímpar para mudanças de hábitos alimentares destrutivos e geradores de sofrimento. Mas seu apredizado não é linear, está sujeito a "ensaios e erros", e conta com sua determinação em não estar identificado e prisioneiro de um velho padrão. Você terá uma boa chance de superar uma falsa identidade adquirida com a doença.

O pacto com o estômago hiperfágico, de grande capacidade de receber alimentos, sugere poder comer à vontade, sem precisar prestar muita atenção ao que se está fazendo, de preferência não perdendo muito tempo com isso. Aproveitando para ver tv, ler o jornal, entrar na internet e mesmo falar no telefone. Resumo: quanto mais distraído melhor.

Aquele estômago era um bom parceiro, disposto a receber grandes quantidades de comida. Você, distraído com outras coisas, não percebendo a monotonia do ato alimentar, vai poder comer tudo isto, e mais um pouco. O estômago camarada pode produzir tudo que for necessário de suco gástrico para digerir toda a comilança, só te cobrando, talvez, um antiácido para aliviar uma eventual queimação, refluxo ou azia, efeitos naturais deste processo.

Este acordo é absolutamente inviável depois da gastroplastia. O estomaguinho não terá esta mesma capacidade. Ainda mais agora, no início da introdução do alimento sólido. Neste primeiro momento, sua capacidade de digerir será em porções realmente pequenas e, mesmo assim, precisando serem mastigadas e saboreadas com você muito presente. Dedicar-se ao ato alimentar, sem tensão e com a curiosidade dos gourmets para novos sabores, é o melhor posicionamento.

Não precisa ter pena de você mesmo pelas porções inicialmente tão pequenas. Isto não ficará assim, sua capacidade de ingesta aumentará, deixe que isso aconteça naturalmente. Não force.
Forçando, você poderá ter experiências desagradáveis e até comprometer, com pequenos traumas, o ritmo do seu processo. A experiência de comer tão pouco e ficar saciado também pode ser prazerosa, não resista a ela. Ela faz parte do seu treino, as quantidades aumentarão.

Com esta nova quantidade, é bom que você capriche na escolha dos alimentos. É imprescindível em todo este processo o acompanhamento de uma nutricionista. É muito estimulante participar da equipe multidisciplinar no pré e pós operatório, com uma nutricionista competente como a Drª Andreia De Luca, uma especialista em gastroplastia muito experiente e com ótima estratégia nutricional e de suplementação para os pacientes operados.

Como você vê, não é uma saída mágica, um caminho mais fácil, uma terapêutica para perdedores e que você precise se envergonhar de ter aderido. Mas um caminho pessoal de autodescobertas e que exige um longo processo de adaptação. É uma possibilidade efetiva de transformações pessoais profundas e confiáveis. Quero compartilhar no blog a satisfação que tenho, na clínica individual, em acompanhar lindas e vibrantes estórias de autossuperação.

Precisa, no entanto, ser corajoso para se abrir às mudanças e decretar o fim do ciclo vicioso de antes. Este é o preço para superar esta doença tão sofrida. Isto também te será cobrado na terapêutica cirúrgica. Não se iluda, a diferença é que, nela, os que "vestiram a camisa" do projeto e abriram-se para se redescobrir sem a doença, tiveram sucesso.

Se você está neste grupo, parabéns !!! Se ainda não chegou lá, saiba que isto já foi possível para muitos, pode ser para você também. Estabelecendo uma aliança lúcida com os efeitos da gastroplastia você poderá conquistar uma saúde vibrante, sem obesidade. E, junto, a felicitação de ter trocado a quantidade de comida pelo prazer de saborear, nutrir-se e ficar satisfeito com pouco e de melhor qualidade.

Fase Pastosa: treinando para gourmet

Depois de 15 dias de dieta líquida, e com o estômago já cicatrizado, chegou a hora de viver uma nova fase do seu pós, com a evolução de sua dieta para a consistência pastosa.

Este é, sem dúvida, um bom momento, afinal o período anterior tinha mesmo que passar, com sua restrição alimentar tão radical. Encerrada a fase cicatricial, estaremos ingressando no início do processo de reeducação alimentar.

Os importantes primeiros passos da reeducação alimentar do pós, serão dados nesta fase.

É comum que a fome fisiológica (lembra da produção de grelina?) não tenha voltado ainda. Mesmo assim, depois de 15 dias de líquidos, é natural que você sinta vontade de comer e principalmente de mastigar. Isto te aproxima de uma normalidade inviável na fase líquida.

Acolha sua vontade de comer. Isto definitivamente não representa uma "cabeça de gordo" - ao contrário, significa que você atravessou a fase líquida sem se deprimir e com vontade de viver... saudável sem a obesidade. A vontade de comer é uma expressão legítima de quem não perdeu a vontade de viver, e sabe que comer é uma fonte fundamental de energia e vida.

Mesmo que a fome tenha voltado - para alguns ela só retorna mais na frente - mesmo que isto já tenha acontecido, você verá que se trata de uma "fome civilizada"e que não precisa ser temida.
Esta fome pode ser vivida com inédita serenidade e proporcionar um novo prazer: sentir a saciedade precoce e o indescritível estou satisfeito!

A fase pastosa do pós favorece o início de uma delicadeza alimentar que fará contraponto ao padrão alimentar anterior, quando os sabores serão notados com nuances inimagináveis para quem vinha se alimentando nervosamente em quantidades hiperfágicas de alimentos. Esta delicadeza te aproximará dos gourmets e do seu prazer à mesa. Experimente!

Esta fase pode ser aproveitada para se rever preferências e fazer novas descobertas sobre você mesmo. Não se confunda com a doença, você ficará melhor sem ela, e para isso é importante estar aberto para o novo, já que o velho e conhecido padrão também te trouxe sofrimento e uma doença crônica extremamente perversa.

O prazer de comer passará por uma transformação compulsória. Deixará de ser gerado pela quantidade de comida - desista disto e também da forma "poderosa" (posso comer como ninguém) de se alimentar. Essa vaidade pode ser substituída por outra. O prazer não virá mais de alimentar um transgressor, que não suporta limites, e se apodera de você enquanto come, te deixando só e culpado no desconforto da digestão dfícil.

O prazer, agora, passa pela delicadeza com que você se trata, e ao alimento que te sustenta. Passa pelos sabores (descubra-os!); depois disto os óleos das frituras poderão lhe parecer diesel. Abra-se para esta nova realidade, você poderá tornar-se criterioso e seletivo com os alimentos, agora é possível. Isto terá repercussão na sua vida de forma muito ampla, transcendendo a esfera alimentar.

É bonito ouvir relatos com relação ao primeiro "Cream Craker com queijo cottage" ou do prazer do primeiro "Minas" ou ainda do sabor do "Maizena com geléia light" e mesmo das Sopas de Legumes, agora dignas deste nome. São relatos que falam de descobertas e de um aprendizado característicos das crianças ou de um candidato a gourmet, curioso com os sabores e autorizado a apreciá-los.

Se isto estiver acontecendo com você, a fase pastosa vivida como um laboratório de novo comportamento alimentar, parabéns!!! Porque assim você estará se habilitando para ingressar na nova fase sólida com uma boa consciência e capaz de evitar sofrimentos. A fase que se aproxima terá novas exigências: a mastigação será necessária.

Com serenidade e calma você chega lá, e quando chegar, saberá o quanto dependeram de você os resultados deste projeto vitorioso de superação da obesidade mórbida.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Fase líquida: missão impossível?


O momento mais drástico e radical da gastroplastia é o período em que o estômago reduzido ainda não cicatrizou, e só pode receber o alimento na consistência líquida. O risco de qualquer ingesta, fora do líquido, é de forçar sobre os pontos, ocorrendo um vazamento deste conteúdo. Um pequeno vazamento é um grande problema, que chamamos de fístula.

Mesmo depois que a conduta cirúrgica incluiu a sutura de todo o estômago, reforçando os grampos que são aplicados pelo mesmo instrumento que corta*; mesmo depois disto, não é possível negociar, com um candidato à cirurgia, menos de 15/20 dias de dieta líquida e... é líquida mesmo!

* Este novo protocolo adotada pela equipe torna a cirurgia mais segura e protegida de fístulas.

O alimento salgado, por exemplo, é o caldo líquido onde foram cozinhados os legumes - sem os legumes, é claro. Já a água de coco tem um lugar de honra neste cardápio, e pode congelada, aplacar a vontade de mastigação desta fase líquida, os isotônicos também fazem parte desta dieta.

Mas como é possível um obeso mórbido suportar 15 ou 20 dias de alimentos líquidos? ( Dependendo da cirurgia realizada, e o tempo cicatricial de cada uma delas. Bypass 15 dias e Sleeve 20 dias por ter uma área cicatricial maior). Logo ele, que gosta tanto de comer? Não precisa ser um glutão para reconhecer que é uma ingesta incomum, até comparada com as dietas mais radicais, pelo seu baixo valor energético. Então será uma missão impossível? O que torna este projeto realizável?

Seu estômago, recém operado nos primeiros 15/20 dias, considerará como tarefa principal a cicatrização, deixando de realizar uma de suas importantes responsabilidades, que é informar ao cérebro que precisamos nos reabastecer de energia, quando o estômago esvazia. Esta tarefa ele realiza produzindo grelina, o hormônio da fome. Neste período sua prioridade será produzir enzimas de cicatrização em detrimento do hormônio. Então, este período é de fome zero, pelo menos no que diz respeito a produção de grelina, a fome fisiológica que informa a necessidade de se repor energia, e que é diferente da outra fome, relacionada à vontade de comer.

Mesmo sem a produção de grelina, você pode ter muita vontade de comer, principalmente para aquele que viveu a compulsão alimentar como um sintoma tão íntimo que confundiu como sendo seu hábito alimentar. Mas mesmo estes, que sofreram deste transtono alimentar, podem atravessar a fase líquida de um novo lugar... sem fome.

Esta experiência fisiológica inédita, não produzir grelina, associado à tomada de consciência de que o velho padrão alimentava excessos e sofrimentos, pode facilitar um posicionamento emocional também inédito de serenidade diante do alimento, pacificando sua relação com a comida, conhecendo a saciedade precoce.

Estes 15/20 dias de líquida têm a função psicológica de te afastar do padrão alimentar anterior, deixando claro que há vida fora da voracidade por quantidade de comida. Um projeto onde a estatística está a seu favor, com bons resultados. Para quem, até ontem, era como você, pode surgir uma motivação para viver esta fase aceitando as condições mais difíceis como um treino.

Agora, enquanto estiver vivendo este momento, verifique se você não está tomando a pior parte, quando o projeto é mais restritivo, pelo todo. Este primeiro momento inegociável, passa. Não foi para isso que você fez a cirurgia, não foi para tomar líquido no copinho, o preço seria muito caro. É daí que se parte... não é aonde se chega. E se você não estiver certo disso, poderá se arrepender de ter operado enquanto estiver vivendo esta fase.

Com 15/20 dias uma ótima notícia: seu estomaguinho cicatrizou, já não é mais um órgão que possa vazar o conteúdo. Ele está fechado com uma porta de entrada e outra de saída, e suas paredes não são frágeis, trata-se de um músculo muito resistente, feito para não vazar. Os microgrampos e a linha de sutura não estão tendo mais função, e serão absorvidos pelo órgão.

Mesmo sem ser frágil, o órgão é imaturo, e antes de digerir o sólido, passará pela fase pastosa. Este é um momento gratificante, na medida em que você já viu os primeiros resultados do emagrecimento, por um lado, e por outro vê sua capacidade digestiva evoluir. Nesta fase, as sopas ficam gostosas com legumes batidos, os purês e souflês também, e a estrela deste cardápio, o cream cracker, que é sólido, mas com a mastigação chega pastoso no estomaguinho.

É comum, na entrada do alimento pastoso, o paciente se sentir bem, com a clara impressão de que o pior já passou. Este é um momento de delicadeza com seu estômago, e que pode inaugurar um novo momento de bons tratos com você mesmo... uma hora propícia para, por exemplo, diminuir sua autocrítica excessiva, que só te fazia refém de culpas e merecedor de grosserias.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O medo da reengorda.

Para aquele que um dia viveu a condição de obeso mórbido, nada mais compreensível que tenha muito medo de voltar à antiga condição de obeso. A doença é muito perversa e só quem a viveu, ou a acompanhou de perto, pode saber dos sofrimentos que ela impõe.

No entanto, quando esta preocupação acontece no período anterior a 1 ano da sua gastroplastia, torna-se um medo infundado e perigoso, que pode inclusive atrapalhar o seu processo de emagrecimento. Isto porque neste período a tarefa que está colocada é a de emagrecer, e não é justo que você se ocupe da reengorda mesmo antes de concluir a grande perda de peso desejada.

O foco no primeiro ano é chegar ao peso ideal. Engordar é o conhecido, emagrecer é a novidade. Estamos falando de grandes perdas de peso. Temer a reengorda pode entrar no lugar da vivência gratificante do emagrecimento e isto ter um efeito detonador de sua motivação para continuar emagrecendo.

No primeiro ano de cirurgia, com ou sem sua ajuda, seus efeitos agem de forma contundente, impondo restrições muito fortes sobre a sua capacidade de ingesta. Neste período, engordar não está colocado - na pior das hipóteses, mantendo-se sedentário, você poderá parar de emagrecer antes do tempo.

É claro que o efeito restritivo da cirurgia diminui gradativamente, é natural também que sua fome volte. Ela é um importante indicador da necessidade de repor energia. O grande legado deste projeto, no longo prazo, é a saciedade precoce, principalmente para aquele, que sem culpa, saboreia, como gourmet, tudo que ingere, ficando livre do antigo e voraz padrão alimentar.

AAlém disso, você pode fazer do seu medo da reengorda, uma motivação para iniciar sua atividade física. Você não se transformou em um E.T. e precisa como qualquer magro dar conta da equação entre calorias ingeridas e calorias consumidas. Mesmo que engordar seja possível, eventual reengorda no pós, será algo muito diferente do famigerado efeito sanfona , onde se recupera toda perda de peso com sobras, em curtíssimo espaço de tempo.

Você perceberá que o ganho de peso,será de poucos quilos, dando tempo de se reposicionar, seja na ingesta, seja na atividade física. Além disto qualquer empenho que você faça terá resultado. Perder os poucos quilos adquiridos é muito diferente de perder os quilos sob o "efeito sanfona" que você conheceu. Não compare!

Mas se você, por acaso se distraiu, e deixou para se ocupar deste tema quando já estava com um peso significativo maior, não perca tempo. O quanto antes você assumir a necessidade de cuidar de si, melhor. Mesmo que precise de ajuda profissional para isso, garanto que nada estará perdido e suas chances de emagrecer, serão maiores.

O sedentarismo é o grande inimigo, no longo prazo, deste projeto. Sabendo disso, é bom que você se abra para a experiência da atividade física, tão difícil quando se é obeso. Você ganhará duas vezes, usufruindo da química do bem estar que ela promove e da manutenção do peso alcançado.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sua grande energia: do medo ao usufruto


Para se chegar a uma obesidade mórbida exista uma condição imprescindível: que você detenha uma grande quantidade de energia pessoal. Até para se conseguir uma alimentação hiperfágica, onde quantidades desproporcionais de alimento são ingeridos e digeridos, são necessárias quantidades enormes de energia.

A obesidade mórbida consome muita energia física, se locomover com tanto excesso de peso não é simples. Da mesma forma consome grande quantidade de energia psíquica, Tentar esconder o que o seu corpo, que não para de engordar, insiste em revelar, consome esta energia. Não é fácil administrar o preconceito que recai sobre os portadores da obesidade.

Esta doença crônica costuma acontecer em detentores de grandes quantidades de energia sem a qual seus principais padrões de comportamento, não seriam possíveis.

Mesmo sendo obrigado a dedicar quantidades extraordinárias de energia para manter tais padrões, ainda assim, encontramos obesos humorados e engraçados, festeiros, aglutinadores e empreendedores , com importantes realizações pessoais. Amigos prestativos, com energia para “animar a festa,”enquanto podem participar dela.

Muito resistente para enfrentar os obstáculos que precisa vencer no seu cotidiano, fica exausto na conclusão das tarefas, com energia disponível apenas para comer. Não quebra fácil, e mostra isso com sua solidariedade com os amigos e sua disposição para ajudar o outro e manter sua auto imagem de “boa gente”.

Admitindo fazer mal, apenas a si mesmo, começa a sentir os efeitos deste comportamento, transformando-se em uma bomba relógio, pronta para explodir.

E este mal, cobrará a conta, minando sua força até encolapsá-la, quando passa injustamente por indolente e acomodado. Nesta hora já “sentiu o golpe” e começa a se sentir um doente que precisa de tratamento. Para uns a resposta é “o efeito leoa”, que enjaulada responde com um recolhimento profundo e desesperançoso. Para outros a resposta é o “efeito onça pintada” que na jaula responde com um comportamento ansioso, de um lado para outro, com um gasto infrutífero da energia que lhe sobra. Quem conhece um efeito pode ainda transitar no outro.

Um dos raros ganhos secundários da obesidade é justamente consumir quantidade extraordinária de energia, que se acredita perigosa e que não deve ficar disponível e livre para “fazer bobagens”, com comportamentos destrutivos. E tem seus motivos para esta crença, porque certamente já assustou, com sua energia intensa, à sua família de origem, pais, tios ou avós, e agora ele próprio é o assustado.

Tem motivos para isso, historicamente já conheceu péssimos usos desta energia e sabe que, correu riscos, até de vida, se expondo a perigos verdadeiros, que agora, por absoluta falta de mobilidade, não está mais exposto. A prisão, que a obesidade representa, protege-o de si mesmo, funcionando como uma camisa de forças que o impede de viver e de se expor. È quando conhece um recolhimento impenetrável, depressivo e envergonhado, que protege, mas também sufoca.

Você, então, suspeita de sua energia, suspeita que ela te trará problemas. Vista como perigosa, ela se torna uma “energia estranha” com vontades e caprichos próprios, que te leva a lugares que você não quer ir.Sempre prevalecendo sobre suas aspirações mais íntimas.Temida, ela não é usada e se acumula, alimentando fantasias que te ocupam, no lugar da vida, que passa ao lado.

De fato esta energia pode te matar e a esta altura você já sabe disto. Ela pode alimentar comportamentos destrutivos e até suicidas. Mas a sua verdadeira natureza é ser uma energia absolutamente neutra. Neutra e disponível para você. È a energia que você detém, e por ser neutra pode estar a serviço da realização de uma vida melhor.

O trabalho psicológico mais importante na obesidade mórbida é justamente abrir portas, fechadas por medo e ignorância. A ignorância de que você dispõe de uma energia que poderá sob o seu comando, ir na direção de seus objetivos.A mesma energia abundante que já te pôs em apuros, pode com o sinal positivo, construir novas situações em que você se sinta mais vivo e vibrante. Mas é preciso experimentá-la sem cerimônia, conhecendo-a melhor.

Mesmo que, historicamente você só tenha feito mal uso dela, perdoe-se, se dando nova chance. Os mestres meditadores do alto Himalaia constatam que não há escuridão, por mais antiga que seja, que resista à chama de uma vela acesa. Acenda esta luz, e com mais clareza, se beneficie pelo tanto de energia que você dispõe para realizar projetos.

Esta energia te fará vibrante, e com possibilidades de gostar da vida, sentindo-se mais pleno para vivê-la. Sem reprimi-la, acolhendo-a, você sentirá esta força, que você pode distribuir democraticamente em áreas fundamentais da sua vida. Todas importantes;
a profissional e acadêmica, a cultural, a afetiva, a amorosa e sexual, a financeira, a física e a espiritual. Não acredite, experimente e se precisar, conte com o suporte psicoterapêutico para isso.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quando comer não traz a felicidade



Primeiro, é bom esclarecer que nem todos os obesos mórbidos sofrem de compulsão alimentar. Muitos deles reconhecem a hiperfagia, comer em grandes quantidades, e também uma cultura alimentar prejudicial, com preferências por alimentos calóricos, sem reconhecerem, no entanto, a enorme tensão e desconexão psíquica que caracteriza o padrão alimentar compulsivo.

Como a obesidade mórbida é uma doença multifatorial, você pode ter chegado a ela sem um comportamento compulsivo, bastando ter associadas à genética desfavorável grandes quantidades de ingestas, sempre superiores ao que se gasta no cotidiano. Mesmo que a compulsão alimentar não esteja na partida deste ciclo, depois que a obesidade se instala, aí sim, torna-se um transtorno muito comum no padrão alimentar do obeso.

Cheguei a uma definição para compulsão que acho pedagógica e tem me ajudado a tratá-la.

- Continuar se dando algo que você já tem, para fazer frente às muitas faltas e necessidades, que você acredita que não possam ser atendidas.

O senso comum sugere que devemos tratar a compulsão dando-lhe limites, promovendo mais um não para aquele que na verdade precisa desesperadamente de um sim. As dietas para o obeso têm esta representação, promover um não na única porta pela qual se podia passar com algum prazer . Sem abrir novas portas, fica inviável fechar também esta por muito tempo.

Cheio de restrições, já não se pode correr, e tudo é mais difícil: amarrar sapatos, dividir o banco da condução, passar na roleta, comprar as roupas que gostaria, e a pessoa vive constrangimentos no seu cotidiano que incluem sua higiene pessoal cada vez mais difícil.

A malignidade da doença atinge todas as áreas da vida. Grande quantidade de energia que o obeso dispõe, está represada em um corpo pesado, doído e sem mobilidade. As portas parecem irremediavelmente fechadas.

Haja força de vontade para mais uma dieta! E seus esforços tendem a fracassar. Toda a força de vontade de emagrecer naufraga com os maus resultados, gerando tristeza ainda maior, que alimenta uma nova força: a da vontade de se compensar, através da comida, por tantos sacrifícios.

O ato alimentar, sob esta dinâmica, se torna aflito e ansioso, gerando uma culpa tão intensa que o levará ao ciclo vicioso: quanto mais como, mais engordo e me entristeço, me levando a comer mais, como compensação por tamanha tristeza.

A culpa alimentar engorda, porque define uma maneira de comer. Uma maneira meio envergonhada, portanto rápida e furtiva, como se estivesse cometendo grande transgressão. Com isso, a própria experiência de comer passa desapercebida, não deixando o lastro das vivências agradáveis, que saciam por mais tempo. Carente da experiência, a pessoa vai querer revivê-la logo a seguir, em intervalos cada vez menores.

Parecendo mesmo que estão se acumulando sucessivas situações de prazer, na verdade a pessoa se encontra em permanente conflito interno, e sob rigoroso julgamento negativo. Na mais absoluta crise do prazer, incluindo o prazer de comer, que dura cada vez menos tempo, substituído por culpas e arrependimentos.

Enquanto portas se fecham em diferentes áreas da vida, o apetite aumenta, junto com os limites do corpo, e o tamanho da tristeza. Neste momento a experiência da compulsão alimentar é mais comum do que parece, e pode chegar à condição de comportamento de risco e muito destrutivo, onde situações bizarras comprometem ainda mais sua autoimagem e estima.

É bom que você se perdoe por isso; a culpa aprisiona muita energia psíquica, e ela pode ser melhor aproveitada no projeto de emagrecimento. Perdoar-se por eventuais maus tratos com você mesmo, se responsabilizando pela forma mais delicada com que passa a se tratar é uma troca inteligente e muito eficaz para quem a realiza.

É comum o paciente se referir ao episódio compulsivo como um estar possuído, fora de si mesmo, como se estivesse em transe e sem qualquer discernimento. Vive o ataque à comida como se estivesse sendo atacado por ela. Estes episódios, principalmente noturnos, servem para impregnar cada vez mais de tensão o ato alimentar, e esta tensão estará presente na forma e na velocidade com que se alimenta.

Se fosse uma droga, a abstinência seria parte do tratamento.
Tratando-se do alimento, a metodologia não pode ser a mesma. O alimento é a principal fonte de vida, o combustível imprescindível para estarmos saudáveis e vibrantes. Não podemos ficar sem ele, portanto... estamos com problemas.

Neste momento é que a psicologia é convocada, colaborando com a reeducação alimentar. É preciso estar presente no ato de comer com uma auto-observação em que não se rejeita a experiência. Rejeitá-la é como jogar uma bola de borracha na parede – quando ela volta mais forte.

Qualificar a experiência alimentar com sua presença e plena atenção, é um grande antídoto para este transtorno. Não é uma tarefa tão árdua assim – afinal, quem não gosta de comer? Você poderá, com esta autorização, começar a desatar a relação entre comer e o sofrimento e a emocionalidade.

Mais presente, cultivando uma apreciação por este momento, se poderá enfim viver o prazer de nutrir-se. Mais presente, você poderá tratar-se com toda a delicadeza que sempre quis ser tratado, iniciando um novo ciclo virtuoso de responsabilidade por si mesmo.

Neste novo ciclo, deixa-se de ser refém da comida. Sua energia não precisa ficar aprisionada a ela, e esta energia liberada poderá dirigir-se para outras áreas da sua vida, tão imprescindíveis quanto é o ato de se alimentar. Afinal, nem só do pão vive o homem.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O que um candidato à cirurgia precisa saber,
e um operado não deve esquecer

O “pulo do gato” deste projeto é estar aberto às mudanças, principalmente as alimentares, com ajuda deste novo aliado: o estômago reduzido. Trocar quantidade de comida pela qualidade da alimentação, a culpa alimentar pelo prazer de nutrir-se e o empanzinamento pela saciedade precoce representará a tão propagada reeducação alimentar e o sucesso deste projeto.

Comer é a principal fonte de vida que temos, e é justo que não banalizemos o momento em que nos abastecemos desta energia. Como gostamos de comer, é natural que o façamos de forma mais presente, usufruindo plenamente deste momento, e isto também faz parte da sua reeducação alimentar.

Costumo dizer que, se comer é tão bom, por que então comemos tão distraídos? Por que comemos vendo tv ou no computador? Um desperdício de uma experiência prazerosa e uma prática que o novo estômago se recusará a compactuar. Ele te pedirá a plena atenção nas ingestas, e você poderá fazer desta nova exigência um ritual prazeroso em nutrir-se.

Gostar de comer não representa uma “cabeça de gordo”. Sua melhor representação, ao contrário, é a culpa de comer e a enorme ansiedade que acompanha este momento.

Tornar-se um gourmet abrindo-se para novos sabores, mantendo-se curioso para conhecer suas novas preferências, sem estar preso a padrões alimentares que te levaram à obesidade, este é o bom posicionamento que a cirurgia favorece, e esta é uma oportunidade que você deve aproveitar.

Agora, se você quiser ficar no “conhecido”, muito identificado com uma doença crônica, confundindo-se com ela sem poder experimentar o novo, aí você poderá trair seu desejo de vencer a obesidade e até contrariar a estatística favorável que a terapêutica cirúrgica oferece. Vai depender muito de você.

Se você confrontar a cirurgia, te garanto que você é mais forte do que ela, e sempre que lutar contra seus resultados você vencerá, mas esta vitória só lhe trará frustração.

Te asseguro que, embora a cirurgia dificulte o exercício do velho padrão alimentar, ela não vai se impor à sua vontade, de manter-se no conhecido.

Por isso, aceitar o novo, estabelecendo uma cumplicidade com o projeto, aceitando seus efeitos restritivos e principalmente a saciedade precoce que ele promove será a sua parte do processo, para então conhecer o melhor dos mundos, em que estará livre para comer e também para parar de comer, deixando de ser refém dos alimentos.

Tenho a satisfação de ter acompanhado inúmeros casos comoventes, em que o desejo de emagrecer foi resgatado, superando fracassos e frustrações anteriores e finalmente realizado.Uma realização alcançada pela superação de desejos inconscientes de permanecer, como antes, em velhos padrões de sofrimento.

Esta é uma tarefa terapêutica e posso dizer como é gratificante alcançá-la.

Superar uma doença crônica e perversa como a obesidade traz uma felicitação interna poderosa, capaz de promover muitas mudanças na sua vida, e o mérito destas conquistas será seu, que aproveitou a oportunidade e se reposicionou diante da vida e dos alimentos que a sustentam.

E se isso já foi possível para tantos, é claro que será para você também.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O dia seguinte

O dia amanheceu bonito e radiante, aliás como foi a vida deste grande amigo. Como é duro falar do Dr. Paulo neste tempo de verbo, como é duro perder um amigo. Em pleno luto já percebo, deste encontro que tive o privilégio de viver, aquilo que não se perderá.

Seu amor pelo exercício da profissão, sua sensibilidade e carisma fizeram dele um grande cirurgião. Um profissional inquieto que, de posse de enorme habilidade técnica, procurou estar sempre atualizado, para que pudesse oferecer o melhor para seus pacientes.

Nós agora vamos lhe retribuir, dedicando a ele, que amou a vida e a viveu de forma intensa e vibrante, o brilho das manhãs de sol e de todas as manifestações da natureza que ele amava.

A tristeza é inevitável, faz parte do patrimônio emocional da nossa espécie, mas evitaremos o desespero, a desesperança e o ressentimento, sentimentos a que nosso amigo definitivamente não merece estar associado.

Dedicaremos a ele, isso sim, nosso amor e gratidão, nosso reconhecimento pela sua realização maior, proporcionar o bem, fazendo parte para sempre de um novo ciclo virtuoso na vida de tantos.

Foi uma honra merecer a sua confiança e me esforçarei em continuar merecendo esta responsabilidade.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Artigo I - O projeto cirúrgico da gastroplastia *

* "Minha experiência clínica recai principalmente sobre a cirurgia por videolaparoscopia e a conduta do pós adotada pelo Dr. Paulo Athayde e Dr. Fernando Valente. Mesmo assim acredito que dicas, fruto desta experiência, possam valer para outras técnicas com as devidas adequações".

Surgery Center - www.reducaodeestomago.med.br

Sobre a Cirurgia
Não me deterei aos aspectos técnicos da cirurgia, sites especializados podem contribuir para isto. Me deterei pelas vantagens de sua realização por vídeo, menos invasivo, com pós menos doloroso e disponível tanto para obesos mórbidos quanto super obesos. Para um cirurgião experiente, ao contrário do que parece, é um procedimento que só facilita o acesso na medida que amplia a imagem em até 5 vezes do tamanho natural e tudo que se faz com a barriga aberta pode ser realizado nesta técnica, exceção da colocação do anel, desnecessária na cirurgia por vídeo.
Neste procedimento, é comum pacientes brincarem, duvidando de terem sido operados, ainda assim, este procedimento é uma cirurgia de grande porte que não deve ser banalizado e quanto maior a adesão do paciente ao projeto no pós, melhor será o seu resultado.

Para mim tem sido muito gratificante acompanhar obesos mórbidos, vendo-os superar a obesidade, através de uma terapeutica cirurgica tão bem executada por vídeo, como pelos cirurgiões Dr. Paulo Athayde Lopes e Dr. Fernando Valente.